sábado, 12 de outubro de 2013

Lição de honestidade - Pai de assaltante procura vítimas para devolver dinheiro.

Pai de assaltante procura vítimas para devolver dinheiro roubado pelo filho.


O auxiliar de pedreiro Dorivaldo Porfírio de Lima não tem carteira assinada e recebe pouco mais de um salário mínimo por mês. Mesmo assim, procurou as vítimas dos assaltos praticados pelo filho para os ressarcir dos prejuízos.
Assinou notas promissórias e vai pagar em 10 parcelas parte dos R$ 1,5 mil roubados pelo filho de um posto de combustíveis e de uma farmácia da cidade de Jales, no interior de São Paulo. A história sensibilizou os moradores da cidade, que estão ajudando o auxiliar a pagar os prejuízos.
— Quando recebi a visita dele, dizendo que queria pagar os prejuízos do roubo, fiquei surpreso, quase caí de costas. Afinal, não dá para acreditar numa coisas dessas. Hoje em dia até quem tem a dívida já não paga, imagine alguém pagar pelos outros — comentou o comerciante Pedro Paulo Santana, dono do autoposto Espacial, assaltado na madrugada de terça-feira.
As câmeras do posto filmaram quando dois rapazes renderam o frentista e limparam o caixa da loja de conveniência após ameaçar uma funcionária do estabelecimento. Um dos assaltantes é o filho de 18 anos de Dorivaldo. A dupla foi presa no dia seguinte e confessou os dois roubos.
Na quarta-feira, ao saber da prisão, Dorivaldo começou a procurar os comerciantes para os ressarcir dos prejuízos. Foi por dois dias seguidos procurar o dono do posto.
— Ninguém deve ficar no prejuízo de ninguém. Por isso, decidi procurar os donos do posto e da farmácia para tentar consertar essa situação. E também vou acertar o celular da moça que eles roubaram — contou.
Na quinta-feira, ao encontrar Santana, o auxiliar fez um acordo. Como não tinha dinheiro para pagar à vista, dividiu os R$ 900 roubados no posto em 10 parcelas de R$ 90 cada uma.
Honestidade assusta
Dorivaldo também procurou a farmácia Silva Drogas, no centro da cidade, roubada na manhã de domingo.
— Quando ele se apresentou como pai de um dos ladrões, levei um susto e fiquei mais assustado ainda quando ele me disse que queria pagar o prejuízo do filho — conta João Durval Passari, dono da farmácia.
Lá, Dorivaldo conseguiu um desconto, mas não foi preciso pagar.
— Como eram dois ladrões, aceitei parcelar só a metade dos R$ 600 roubados, mas hoje (sexta-feira), quando algumas pessoas da cidade souberam da história dele, vieram aqui e pagaram os R$ 300 — afirmou Passari.
— O pessoal da cidade ficou muito sensibilizado e decidiu ajudá-lo. E não é por menos, porque uma história dessas a gente não vê acontecer todo dia — completou o dono da farmácia.
Outro que se surpreendeu com o caso foi o delegado Sebastião Biasi, que atendeu a ocorrência.
— Em 20 anos de profissão, nunca vi uma situação dessas — contou.
Segundo Biasi, o filho do auxiliar de pedreiro, Bruno de Souza Lima, de 18 anos, confessou os roubos.
— Ele era primário, foi a primeira passagem dele. Ele é usuário de drogas — disse o delegado.
Apesar da prisão, Dorivaldo diz acreditar na recuperação do filho, que pela primeira vez praticou um assalto.
— Ele se perdeu nas drogas, que falaram mais alto na cabeça dele. Eu acredito que ele vai se recuperar. Ele, saindo da cadeia, vai trabalhar para me pagar o que paguei para as vítimas, pois ele é um rapaz trabalhador, batalhador. Ele não precisa disso, só aconteceu porque as drogas falaram mais alto. Tenho certeza disso — afirmou o pai.